O Verde


O verde é a cor do reino vegetal se reafirmando, graças às águas regeneradoras e lustrais nas quais o batismo tem todo seu significado simbólico. O verde é o despertar das águas primordiais e da vida.

O verde, valor médio entre o calor e frio, o alto e o baixo, à mesma distância do azul celeste e do vermelho infernal - ambos absolutos e inacessíveis - é uma cor tranqüilizadora, refrescante e humana. A cada primavera após o inverno, reveste a terra de um novo manto verde que traz nova esperança. A primavera manifesta-se através do derretimento dos gelos e das quedas de chuvas fertilizadoras.

Winkerman escreve que se a figura de Netuno tivesse chegado até nós em pintura, ele teria roupa verde-mar ou verde claro. Enfim, tudo o que fosse relacionado com os deuses marinhos, até os animais que lhes eram sacrificados, traziam pequenas faixas verdes. Devido a isso os poetas imaginam os rios com cabelos dessa cor.

Essa cor está relacionada com o raio. Corresponde, na China, ao trigrama tch´en, o trovão é signo da ascensão de yang; corresponde também ao elemento madeira. É a cor da esperança, da força da longevidade (e, por outro lado também da acidez). É a cor da imortalidade universalmente simbolizada pelos ramos verdes.

Por ser cor da esperança podemos associar a cor verde com o personagem Cebolinha de Maurício de Souza.

O mesmo alimenta uma forte vontade de ser o dono da rua com seus planos infalíveis para derrotar a dentuça.

Sua cor, talvez por coincidência, possui vínculo total com o vermelho (cor da personagem Mônica). Essas cores se repelem e se complementam ativamente sempre que apresentadas em suas histórias. Os personagens da Turma da Mônica dispensam maiores comentários.

Algumas culturas consideram o verde uma cor secundária, oriunda do vermelho. Nessa representação, muitas vezes se vê como complementação dos sexos: o homem fecunda a mulher, a mulher alimenta o homem; o vermelho é a cor masculina e o verde a cor feminina. No pensamento chinês é o yin e o yang; o primeiro, masculino e o segundo feminino. o equilíbrio dos dois é o segredo do homem e a natureza.

A expressão "Ficar Verde", nascida da hipertensão provocada pela vida urbana, também exprime a necessidade de uma volta periódica a um ambiente natural, o que faz do campo um substituto da mãe.

O diário de um esquizofrênico citado por Durant mostra isso: "Senti-me, escreve o doente, próximo da cura, entrando numa paz maravilhosa. Tudo no quarto era verde. Pensei estar num charco (lugar onde há água estagnada e pouco profunda), o que pra mim, equivalia a estar dentro do corpo da mãe... Eu estava no Paraíso, no seio materno."

Na Idade Média, o jaleco dos médicos eram verdes por usarem plantas medicinais; nos dias de hoje foram substituídas pelo vermelho escuro que, intuitivamente, exprime a crença no segredo da arte médica; mas o verde continuou sendo a cor dos farmacêuticos, que elaboram os remédios.

A publicidade farmacêutica soube trazer de volta uma velha crença dando valor mítico de panacéia (remédio com que se pretendia curar todos os males físicos e morais) e palavras como clorofila ou vitaminas.

O verde - envolvente, tranqüilizante, refrescante e tonificante - é celebrado nos monumentos religiosos erigidos no deserto por nossos ancestrais. Para os cristãos, a esperança, virtude, permanece verde. Mas o cristianismo desenvolveu-se em climas temperados, onde a água e a verdura tornaram-se banais. Totalmente diferente é o caso do islamismo, cujas tradições criaram-se como miragens, acima da imensidão hostil e ardente dos desertos. A bandeira do Islã é verde, e essa cor constitui para o muçulmano o emblema da salvação, o símbolo das mais elevadas riquezas, materiais e espirituais. Dizem que era verde o manto do enviado de Deus.

Benéfico, o verde reveste-se, portanto, de um valor mítico, dos paraísos verdes e dos amores infantis: também verde como a juventude do mundo, é a juventude eterna prometida aos eleitos. A verde Erin, antes de tornar-se o nome de Irlanda, era o da ilha dos bem aventurados do mundo Celta. Os místicos alemães (Mectilde de Magdeburgo, Angelus Silesius) associam o verde ao branco para qualificar a Epifania* e as virtudes cristãs, a justiça do verde vindo complementar a inocência do branco.

* Epifania: Manifestação de Jesus Cristo perante os Reis Magos que o vieram adorar. A partir da reforma do calendário litúrgico (ciência que trata das cerimônias e ritos da Igreja) de 1969, celebra-se no segundo domingo depois do Natal.

Podemos encontrar a mesma complementação do verde e vermelho nas tradições relativas as divindades do amor. Afrodite, que surgiu das espumas das ondas, fica dividida entre a atração de dois princípios masculinos - o esposo, Hefestos, fogo ctoniano (deuses que residem nas cavidades da Terra), e o amante Ares, fogo uraniano. No dia em que Hefestos surpreende os amantes abraçados é Posêidon, Deus das águas, que intervém em favor de Afrodite.

Na Idade Média os pintores pintavam a cruz de verde - que representou o instrumento da regeneração do gênero humano através do sacrifício de Cristo.

A cor verde era muito simbolizada pela monograma do Cristo Redentor, formado por duas consoantes da palavra verde. Por essa razão, a luz verde toma uma significação muitas vezes oculta.

Os Egípcios temiam os gatos de olhos verdes e puniam com a morte as pessoas que os executavam. Na tradição órfica, o verde é a luz do espírito que fecundou no início dos tempos as águas primordiais, até então envoltas em trevas.

Para os alquimistas é a luz da esmeralda que penetra os maiores segredos. A partir disso é possível compreender o significado do raio verde: se ele é capaz de tudo atravessar, é portanto a morte ou vida.

O verde da pele do enfermo opõe-se ao verde da maçã e embora as rãs e as lagartas verdes sejam divertidas e simpáticas o crocodilo, escancarando a goela verde, é uma visão de pesadelo, portas do inferno abrindo no horizonte para aspirar a luz e a vida.

Essa cor pode possuir um força maléfica, noturna, como o símbolo feminino. A linguagem o demonstra - podemos ficar verdes de raiva ou verdes de frio. A esmeralda, que é uma pedra papal, também é a pedra de Lúcifer antes de sua queda.

Embora o verde fosse o símbolo da razão - os olhos de Minerva - na Idade Média, tornou-se também o símbolo do irracional e o brasão dos loucos. Satanás também foi representado num vitral da Catedral de Charles, de pele e olhos arregalados com tons de verde.

O verde transmite paz. Integra emoção e razão. Produz um ambiente calmo e com muita energia ao mesmo tempo. É o verde dos ecologistas, trás nostalgia.

O verde é a cor da água, assim como o vermelho é a cor do fogo, e é por essa razão que o homem sentiu, instintivamente, que a relação dessas duas cores são análogas às de sua essência e existência.

Van Gogh escreveu: "Procurei exprimir com o vermelho e o verde as terríveis paixões humanas". (Letters à Théo, sur le café de nuit, de 8 de setembro de 1888)

Representa o Graal, vaso de esmeralda ou cristal verde, portanto o verde mais puro, que contém o sangue do Deus encarnado, no qual se fundem as noções de amor e sacrifício. A luz divina apresentada no Graal contém a própria essencia da divindade, ao mesmo tempo com o verde de jaspe (quartzo opaco criptocristalino) e de um vermelho escuro e profundo.

Ao interpretar esses dois aspectos essenciais do verde, cor natureza e fêmea, os especialistas modernos da comunicação e marketing concluíram, depois de testes e sondagens, que o verde é a cor mais calma que existe, é uma cor sem alegria ou tristeza, sem paixão... que nada exige.

Ele é a oscilação entre o dia e a noite, a germinação e a putrefação, o pêndulo parado no ponto zero da balança. A paz do verde seria a paz da neutralidade.

Especialistas especificam que se trata do verde puro, que qualquer acréscimo de um pigmento estranho, por mais leve que seja, elimina sua neutralidade para trazê-lo de volta a a agitação da sociedade:

- uma ponta de amarelo lhe dá força ativa, um aspecto ensolarado.
- com um azul dominante, o verde torna-se sério e carregado de pensamentos.

Claro ou escuro, o verde mantém seu caráter original de indiferença e calmaria; no verde-claro predomina a indiferença; enquanto a calma sentimos mais no verde-escuro.

Em nossa época, em que, através de descobertas científicas, o fantástico retoma um significado cósmico: a representação de marcianos ou extraterrestres.

O verde conserva um caráter estranho e complexo, que provém da sua polaridade dupla: o verde do broto e o verde do mofo, a vida e a morte. É a imagem das profundezas e do destino incerto.

Material de consulta: Dictionnaire Des Symboles - Livro Francês traduzido por Vera da Costa, Raul de Sá, Angela Merlim e Lúcia Merlim.
Matéria retirada do site Imasters
Autor: Wellington Carrion

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