O Branco


Assim como o preto, sua contra-cor, o branco pode situar-se nas duas extremidades da gama cromática. Muitas vezes se coloca no início e, outras vezes no fim, no término da vida diurna. É vibrante e estimulante por ser a união de todas as cores. Produz troca de energia e capta bem a energia solar. Favorece a clareza, é a cor da verdade.

O branco é a cor da candidatura, de quem vai mudar de condição ou a condição de outros.

Na coloração dos pontos cardeais é natural. Não se estranha que a maioria dos povos tenha feito do branco a cor do Este e Oeste, dos dois pontos extremos e misteriosos

onde o Sol, astro do pensamento diurno, nasce e morre todos os dias.
Em ambos os casos o branco é o valor-limite, assim como as duas extremidades da linha infinita do horizonte.

É a cor da passagem, no sentido a que nos referimos ao falar dos rituais de passagem: e é justamente a cor privilegiada desses rituais, através dos quais se operam as mutações do ser, segundo o esquema clássico de toda iniciação: morte e renascimento.

O branco do Oeste e o branco fosco da morte, que absorve o ser e o introduz ao mundo lunar, frio, fêmea. Conduz à ausência, ao vazio, ao desaparecimento da consciência (sempre bem representado no cinema quando em pensamento ou memória - flashes com branco ou imagem embranquecida) e das cores diurnas.

Todo simbolismo da cor branca, e de seus usos rituais, decorre da observação da natureza, a partir da qual todas as culturas edificaram seus sistemas filosóficos e religiosos.

O pintor Kandinsk, para quem o problema das cores ultrapassavam e muito o problema da estética, exprimiu-se sobre esse tema:

O branco, que muitas vezes se considera como uma não-cor... é como o símbolo de um mundo onde todas as cores, em sua qualidade de propriedades de substâncias materiais, se tenham desvanecido... O branco produz sobre nossa alma o mesmo efeito do silêncio absoluto... Esse silêncio não está morto, pois transborda de possibilidades vivas. É um nada, pleno de alegria juvenil, ou melhor, um nada anterior a todo nascimento, anterior a todo começo. A terra, branca e fria, talvez tenha soado assim nos tempos da era glaciária. Seria impossível descrever melhor, sem dizer-lhe o nome, a alvorada.

Em todo pensamento simbólico, a morte precede a vida, pois todo nascimento é um renascimento. Por isso, o branco é primitivamente a cor da morte e do luto. E isso ainda ocorre em todo o Oriente, tal como ocorreu, durante muito tempo, na Europa e em especial, na corte dos reis da França.

Sob seu aspecto nefasto, o branco se contrapõe ao vermelho: é a cor do vampiro a buscar, precisamente, o sangue - condição do mundo diurno - que se retirou. É a cor da mortalha, de todos os espectros, de todas as aparições. O primeiro homem branco a aparecer entre os bandos do sul dos Camarões teria sido chamado de o fantasma-albino.

O branco é a cor dos primeiros passos da alma, antes do alçar vôo dos guerreiros sacrificados. Por essa mesma razão, todos os deuses do Panteão Asteca, cujo mito celebra um sacrifício seguido de renascimento, usavam ornamentos brancos.

Vestiam-se os condenados com uma camisa branca, significativa de submissão e de disponibilidade, esta é uma prática ainda encontrada nos dias de hoje.

Igual significado tem também a vestimenta branca dos comungantes e a da noiva ao dirigir-se ao encontro de seu parceiro.

Costumava-se chamar, erradamente, essa roupa de vestido de noiva ou de casamento. É o vestido daquela que se dirige para o casamento.

Uma vez realizado esse casamento, o branco cederá lugar ao vermelho, assim como a manifestação do despertar do dia, sobre o pano de fundo da alvorada fosca e neutra como um lençol, será constituída pela aparição de Vênus, a vermelha. Mais tarde seria a menção à núpcias do dia.



É a cor da pureza, é passiva e limpa, desprovida de qualquer tipo de influência sendo assim extremamente neutra, mostrando apenas que nada foi realizado ainda. É o sentido da origem da brancura virginal e a razão para que no ritual cristão, as crianças sejam enterradas debaixo de um sudário branco ornado de flores brancas.

A valorização positiva que se dá ao branco pode estar ligada ao fenômeno iniciático. É o atributo que se dá a quem se renasce, ao recomeço ou a vitória. Isso pode explicar o fato de se iniciar cada ano com vestimentas brancas.

Outro exemplo dessa valorização positiva é a toga viril, símbolo de afirmação, de responsabilidade assumida, de poderes reconhecidos, de renascimento realizado, de consagração. Nos primeiros tempos de cristianismo, o batismo, que é ritual iniciático, chamava-se a Iluminação e era após ter pronunciado seus votos que o novo cristão, nascido para a verdadeira vida, veste uma resplandecente toga branca.

O branco é cor essencial da sabedoria, vinda das origens do homem; o vermelho é a cor do ser, mesclado às obscuridades do mundo e prisioneiro de seus entraves; tal é o homem sobre a terra, arcanjo purpurado.

No budismo Japonês, a auréola branca e o lótus branco estão associados ao gesto de punho do conhecimento do grande iluminador Buda, em contraposição ao vermelho e ao gesto de concentração.

O branco, cor iniciadora, passa a cor da revelação da graça, da transfiguração que deslumbra e desperta o entendimento, ao mesmo tempo em que o ultrapassa: é a cor da teofania (manifestação de Deus), cujo vestígio permanecerá ao redor da cabeça de todos aqueles que tenham conhecido Deus, sob a forma de uma auréola de luz que é exatamente a soma das cores.

Os dentes brancos são símbolos de inteligência e sabedoria, pode se relacionar sempre a riqueza de conhecimento.

Isso pode explicar a grande associação dessas duas cores na bandeira do Vaticano, através da qual acaba a se afirmar na terra o reino do Deus cristão.

O branco traz leveza, o espaço, a liberdade, o vazio, a frieza, a verdade, a ausência, a limpeza, o infinito, a luz... a sabedoria, a inteligência, a divindade, o bem, o recomeço...

Material de consulta: Dictionnaire Des Symboles - Livro Francês traduzido por Vera da Costa, Raul de Sá, Angela Merlim e Lúcia Merlim.
Matéria retirada do site Imasters.
Autor: Wellington Carrion


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